Era 2001 quando o primeiro Restaurante Comunitário foi instituído no Distrito Federal. Mais precisamente em 11 de setembro daquele ano foi inaugurado o Rorizão, apelido carinhosamente dado pela população para batizar o Restaurante Comunitário de Samambaia — uma homenagem ao então governador do DF, Joaquim Domingos Roriz (1936-2018), oficializada pelo Governo do Distrito Federal (GDF) em 2019.
Considerado como um patrono pelos moradores de Samambaia, Joaquim Roriz foi o governador responsável pela criação da cidade, em 1989. Depois de instituída como região administrativa, Samambaia foi a primeira cidade a receber o restaurante, que, à época, servia almoço ao custo de R$ 1. Em 2001, o valor gasto pelo governo em cada refeição era de R$ 1,49. O Rorizão servia, em média, 2.000 refeições por dia, sendo que o governo arcava com, aproximadamente, R$ 77.500 mensais.
Dimas de Alencar Maia, 56 anos, é líder comunitário e mora em Samambaia desde julho de 1989. Ele relembra que foi um evento entre os moradores quando houve a abertura definitiva do restaurante. “Foi o máximo receber o primeiro restaurante em Samambaia. Quando foi inaugurado, eu frequentava direto. Eu e meus colegas de serviço íamos praticamente todos os dias. Às 11h a gente já começava a chegar; quando dava umas 14h, [o restaurante] já estava lotado de gente. A comida era muito boa, serviam arroz, feijão, carne e verdura. Na sexta tinha feijoada”, comentou.
“O meu marido tinha uma preocupação muito grande com a fome. Ele dizia que gente com fome era gente triste. Quando ele criou o Restaurante Comunitário, isso foi uma realização dele, porque sabia que ia ajudar muita gente, e governo nenhum que entrasse ou que saísse poderia acabar com o Restaurante Comunitário. Mesmo antes de o restaurante ser inaugurado, o Joaquim determinou que fossem fornecidas sopas à noite pelos assentamentos que tomavam de conta da cidade”Weslian Roriz, viúva do ex-governador Joaquim Roriz
Uma das prioridades com a inauguração do restaurante era reforçar políticas públicas para combater e prevenir a exclusão social e a insegurança alimentar, dificuldades enfrentadas pela população de Samambaia – cidade que, antes de ser regularizada, era formada por invasões.
Weslian Roriz, viúva do ex-governador, conta como foi a decisão de instituir um local com refeições baratas para uma população que sofria com vulnerabilidades diversas no dia a dia: “O meu marido tinha uma preocupação muito grande com a fome. Ele dizia que gente com fome era gente triste. Quando ele criou o Restaurante Comunitário, isso foi uma realização dele, porque sabia que ia ajudar muita gente, e governo nenhum que entrasse ou que saísse poderia acabar com o Restaurante Comunitário. Mesmo antes de o restaurante ser inaugurado, o Joaquim determinou que fossem fornecidas sopas à noite pelos assentamentos que tomavam de conta da cidade”.
O restaurante de Samambaia foi o pontapé inicial para que, nos anos seguintes, outras unidades fossem inauguradas. Mas foi somente em 2008 que a iniciativa se tornou um programa criado pelo GDF por meio da lei nº 4.208, cuja regulamentação está prevista no decreto nº 29.975, de 27 de janeiro de 2009.
“O GDF tomou uma medida excelente quando passou a oferecer café da manhã e jantar nos restaurantes, que também vão abrir aos fins de semana. A pessoa que não tem o que comer continua sem ter o que comer aos sábados e domingos. Por que ela só tinha o direito de se alimentar de segunda a sexta? A população precisa desses equipamentos públicos de domingo a domingo”Rita Akutsu, pesquisadora do Departamento de Nutrição da UnB
Atualmente, o DF dispõe de 15 restaurantes comunitários distribuídos pelas regiões administrativas. Foi na atual gestão, em setembro de 2019, que o valor da refeição do almoço caiu de R$ 2 para R$ 1 e que os contratos de prestação de serviços passaram a ser modificados aos poucos para ofertar as três refeições diárias, café da manhã (R$ 0,50), almoço (R$ 1) e jantar (R$ 0,50), além de funcionar também aos fins de semana e feriados.
A ampliação da oferta de refeições é elogiada por especialistas em segurança alimentar. “O GDF tomou uma medida excelente quando passou a oferecer café da manhã e jantar nos restaurantes, que também vão abrir aos fins de semana. A pessoa que não tem o que comer continua sem ter o que comer aos sábados e domingos. Por que ela só tinha o direito de se alimentar de segunda a sexta? A população precisa desses equipamentos públicos de domingo a domingo”, defendeu a pesquisadora e professora do Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília (UnB), Rita Akutsu.
De janeiro de 2019 a junho deste ano, os 15 restaurantes comunitários do DF serviram 3.317.060 refeições, com um investimento de mais de R$ 15,7 milhões por parte do GDF. “Em 2001, havia 65 restaurantes comunitários no Brasil. Hoje, o país conta com 189 restaurantes em pleno funcionamento. Quando há novos equipamentos públicos desta natureza, sempre há um impacto positivo na sociedade, que é levar alimentação às pessoas que precisam desse apoio do governo”, explicou a pesquisadora.
O que está por vir
Em agosto deste ano, o governo entregou o 15º Restaurante Comunitário do DF, a segunda unidade no Sol Nascente, que contou com investimento de cerca de R$ 5,2 milhões. Ainda há outras duas unidades planejadas para os próximos meses. Os restaurantes de Arniqueira, que já teve a empresa de fornecimento contratada, e mais um em Samambaia, que está em obras, passarão a atender, em breve, a população dessas regiões.
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