Em uma viagem a um lugar remoto da Amazônia, conheci uma personagem que vivia em completo isolamento, que nunca tinha sentado em um banco de escola. Incrivelmente, desafiando todas as expectativas e sem nenhuma instrução, ela conseguiu montar uma engenhoca que produzia energia suficiente para um “bico” de luz e um rádio para se conectar com o mundo.
Chegar nesse lugar demorou quase um dia, navegando em um barco com motor de rabeta pelo interior de um igarapé de águas barrentas, que cortava a mata e tricotava os galhos mais baixos da vegetação na região do Purus, no Acre.
Quando eu, o repórter cinematográfico e um auxiliar (sim, antes tínhamos até auxiliar nas equipes de reportagens) percebemos que essa pauta, que surgiu de uma simples conversa casual era, na verdade, uma história real e extraordinária, tudo mudou. O que deveria ter sido apenas uma matéria para o jornal local se transformou em uma especificidade, repercutindo no Brasil e fora do país.
Nesse momento, percebi, de verdade, que o jornalismo seria minha profissão. Para quem sonhava em ser diplomata, de outra forma, essa era a chance de conhecer pessoas, histórias, lugares, outras culturas. Não era fácil há 30 anos, e mesmo hoje, com toda a evolução tecnológica, continua sendo desafiador.
Entenda. Se anteriormente não tínhamos acesso às modernas ferramentas digitais, o que dificultava nosso trabalho, agora, nossa batalha é contra a disseminação da desinformação, com as notícias falsas e as fake news (sim, são coisas distintas). Além disso, no Brasil, também vivemos uma era de precarização da profissão, com empresas que pagam salários medíocres, referendadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu que o diploma de jornalismo não é obrigatório.
Ainda assim, é um privilégio ser profissional de jornalismo.
Da máquina de datilografar, quando iniciei, aos smartphones, que nos permitem escrever, fotografar, filmar e transmitir ao vivo, foi possível acompanhar momentos cruciais que moldaram a nossa sociedade. Nem sempre bons, nem sempre agradáveis. Mas, muitas e muitas vezes, enriquecedores.
A necessidade de aprofundar e abordar temas complexos de forma acessível a todos, como conversas e entrevistas com autoridades, ídolos, celebridades ou com aquele cidadão mais simples e humilde, tudo isso ajudou a desenvolver um compromisso pela busca da verdade e a paixão por compartilhar histórias.
E foram tantas. As coberturas especiais em diversas áreas, as grandes cheias, as secas intensas, os debates políticos, eleições, Copa do Mundo de Futebol no Brasil, Olimpíadas do Rio de Janeiro, as campanhas contra a violência, por educação e saúde. Sobrevivemos à pandemia de covid-19.
O desafio de entregar um trabalho de qualidade persiste, assim como o desejo de contribuir para uma sociedade mais justa, democrática e consciente de seus deveres e direitos.
Jefson Douradoé jornalista há 30 anos e diretor de Publicidade e Marketing da Secom
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