Dez escolas do Distrito Federal vão receber o espetáculoQuilombos da Liberdade – Ancestralidade, desenvolvido pelo Centro Cultural e Social Grito de Liberdade – Mestre Cobra, em parceria com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). O projeto é viabilizado por um fomento de R$ 200 mil, do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).
O espetáculo está em sua 14ª edição e faz parte do projeto Quilombo nas Escolas, que inicia nova programação de apresentações presenciais, abordando a temática das manifestações culturais por meio dos valores e ensinamentos das raízes afro-brasileiras da capoeira.
Nas palavras de Roberto de Oliveira França – ou, como é conhecido, Mestre Cobra –, a capoeira é, além de cultura, uma luta de transformação. Ele trabalha com a modalidade no DF desde 1994.
“O mais importante é o respeito. Quando a gente leva a capoeira, vai quebrando alguns paradigmas na questão de respeitar o próximo e as culturas diversas. A gente alcança um olhar de admiração, e levar o amor nesse esporte, que é um ato bonito, encanta e leva algo de bom para o coração”, destacou Mestre Cobra, que é o fundador do Centro Cultural e Social Grito de Liberdade.
“É um movimento que resgata nossa história e nossa ancestralidade, trazendo uma visibilidade na sociedade para que não morra a nossa raiz. Estamos abrindo as portas para a cultura, com mais inclusão de etnias, credos e PcDs”Roberto de Oliveira França, fundador do Centro Cultural e Social Grito de Liberdade
Durante quatro meses, serão visitadas instituições da rede pública, dos níveis de ensino básico, fundamental e médio. As apresentações serão no Riacho Fundo, Riacho Fundo II, Recanto das Emas, Ponte Alta do Gama, Samambaia, Taguatinga e Ceilândia. A iniciativa já alcançou mais de 100 mil crianças, professores e trabalhadores das instituições. No cronograma, oito escolas ainda vão receber as apresentações.
O espetáculo dura uma hora e é apresentado nos períodos matutino e vespertino. Em cena, 16 artistas permeiam o universo da capoeira, ao ritmo de instrumentos seguidos por cantos e agradecimentos. Durante as apresentações, os mestres e tutores trazem narrativas de cunho histórico e de experiências pessoais com a luta.
“É um movimento que resgata nossa história e nossa ancestralidade, trazendo uma visibilidade na sociedade para que não morra a nossa raiz. Estamos abrindo as portas para a cultura, com mais inclusão de etnias, credos e PcDs [pessoas com deficiência]”, reforçou Roberto.
Os seis atos
As aulas-espetáculos são apresentadas em seis atos, que guiam os alunos por uma viagem histórica e cultural, trazendo a multiculturalidade brasileira representada pela capoeira.
No primeiro ato é apresentada a modalidade Angola, caracterizada por manter o estilo original praticado pelo povo negro escravizado no surgimento da capoeira no país. É um tipo de capoeira mais lento e com grandes doses de ginga.
No segundo ato, o espetáculo introduz a Puxada de Rede, uma parte cantada que narra a história de uma aldeia pesqueira que passa por um período de escassez e depois consegue a abundância. O terceiro ato mostra o toque de São Bento Grande da Regional (ou de Bimba), um ritmo de berimbau criado por Mestre Bimba, utilizado na capoeira regional.
No quarto ato, vem a dança do bastão, que simboliza uma luta tribal e é feita com oito bastões de 1,50m cada. O quinto ato é o Batidão, que traz a cultura do grito de liberdade, uma parte interativa entre alunos, professores e capoeiristas.
Por fim, o sexto ato traz a dança maculelê de facão. A lenda conta que Maculelê era um um homem negro que estava muito ferido e foi encontrado por uma tribo indígena, que o acolheu e cuidou dele.
De acordo com José Ricardo do Nascimento, conhecido como Mestrando Quixaba, a ideia é preencher um espaço de carência esportiva, cultural, artística e de entretenimento que há em áreas de vulnerabilidade social no DF.
“Com esse projeto a gente leva os grandes palcos para dentro das escolas. Levamos essa vivência para os alunos, que ajuda a combater a ansiedade e a depressão e mostra para esses alunos que podemos ser os protagonistas da nossa própria história”, observou.
Trajetória e resgate ancestral
Em 1890 a capoeira foi proibida por lei no Brasil. Na época, os praticantes utilizavam um pseudônimo para manter o anonimato. A tradição dos nomes foi mantida até os dias atuais, com os apelidos geralmente indicados por um professor ou padrinho do capoeirista.
No governo de Getúlio Vargas, a capoeira foi reconhecida como esporte nacional. Em 2008, o esporte foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), um arco forte na capoeira regional.
O Centro Cultural e Social Grito de Liberdade – Mestre Cobra foi fundado em 2005, e promove entre a comunidade, há cerca de 18 anos, atividades assistenciais por meio da capoeira. Para Ronivaldo Teodoro, ou Mestrando Bacamarte, as apresentações são uma imersão nas raízes afro-brasileiras para que os jovens se sintam motivados.
“Um dia vimos esse espetáculo e hoje apresentamos. A gente percebe esse brilho nos olhos deles, são novas gerações com interesse em manter a cultura e resgatar a ancestralidade”, acentuou.
Programação nas escolas
? 12/9: Escola Classe 01 Riacho Fundo 2 – 8h e 14h
? 10/10: Escola Classe 02 do Riacho Fundo – 10h e 16h
? 20/10: Escola 801 Recanto das Emas – 10h e 14h
? 26/10: Escola Classe Verde Riacho Fundo – 10h e 14h
? 30/10: Escola Casa Grande Gama – 10h e 14h
? 15/11: Centro Educacional 02 Taguatinga (centrão) – 10h e 14h
? 21/11: Centro Educacional 16 Ceilândia – 10h e 14h
? 23/11: CEF 11 Ceilândia Sul – 9h e 14h30.
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